sábado, 28 de janeiro de 2012

 O Telefonema

         Ser acordada em pleno domingo com o telefone tocando não é nada legal. E o pior ainda é quando querem te vender ou oferecer um serviço. Tudo bem que é o trabalho deles, mas em pleno domingo, isso ninguém merece.
- Alô!
- Bom dia, meu nome é fulana e falo da empresa tal e gostaria de oferecer um de nossos serviços. Com quem eu falo?
- Olha me desculpe, mas você acabou de me acordar e não me interessa os seus serviços. Tenha um bom dia.
         Para ligar dizendo que você acabou de ganhar um prêmio ou coisa parecida, isso ninguém faz. As empresas só ligam para vender e oferecer serviços. E os cartões de créditos? Recordes de ligações. Se eu fosse ter todos os que me oferecem, teria que ter uma carteira só para eles. Agora queria saber como tantas empresas conseguem os nossos telefones?  De duas, uma: ou ficam folheando as listas telefônicas, ou visitam lojas e lojas pedindo os nossos cadastros.
         E cada vez mais insistentes.
         Mas depois de ter atendido aquela ligação, o sono já tinha ido embora, e o domingo estava apenas começando. Até que não foi nada mal ter acordado cedo, assim poderia aproveitar mais o dia. Mas o fato de ter sido acordada com um telefonema de telemarketing não me agradou em nada.
         E quando digo que são insistentes, tenho a certeza cada vez mais.
         Terminado de almoçar, estava deitada no sofá procurando algum programa interessante para ver na TV. Confesso que passei por vários canais. E depois mudei de canal novamente, e novamente, até que...mais uma vez o telefone tocou.
- Boa tarde! Meu nome é fulano e falo da empresa tal. Com quem eu falo, por favor?
         Naquele momento pensei em desligar o telefone, mas isso seria muita grosseria de minha parte, afinal a outra pessoa da linha estava ganhando para fazer aquilo e trabalhar em pleno domingo não é nada fácil. Então, tive uma ideia ao atender o telefone.
- Boa tarde. Meu nome é sicrana.
- Olá Sra. Sicrana, nossa empresa está a 20 anos no mercado e ...
- Nossa! Que bom que você me ligou, estava pensando agora que em pleno domingo trabalhar, não é nada fácil mesmo, mas não fique triste querido, a gente pode conversar bastante, ai você me conta sobre sua vida. Sabe, outro dia fui ao supermercado e vi como as coisas estão caras.
- Senhora me desculpe, mas...
- Fui comprar algumas coisas e quase cai para trás. Não imaginava que estavam tão caras. Mas fazer o que né? a gente tem que comer, e o jeito é pagar pelo preço praticado mesmo. Você não acha? E como foi seu ano novo?
- Senhora...
- O meu foi ótimo. Viajei para a casa de alguns familiares. Visitei lugares maravilhosos, sem falar que agora terei que entrar no regime (risos). Mas valeu a pena, foi um final de ano ótimo...Alô...alô...desligou.

Texto publicado no Jornal da Manhã em 22/01/2012- Coluna Vida Urbana
        

sábado, 21 de janeiro de 2012

 Amor Incondicional

         Como explicar o amor de mãe? Não, não tem como explicar e muito menos mensurar tamanho sentimento. Ele é eterno, é incondicional, é puro, é infinito... É este amor que faz com que ela acorde de madrugada para cuidar do filho que está doente, ou levantar varias vezes durante a noite para alimentá-lo quando chora de fome. É ela que ajuda nas tarefas da escola, que dá bronca apesar de ficar com uma dor no coração, quando o filho faz alguma travessura. É esse amor eterno que chora ao ver que aquele bebezinho hoje já é uma mulher e que acaba de entrar na igreja linda com aquele vestido de noiva. É esse amor que dá conselhos quando sofre por um amor não correspondido. É esse amor que se alegra quando o filho passa no vestibular, quando acaba de comprar um carro novo ou quando arruma o primeiro emprego. Sim, é o amor infinito... o amor que não tem tamanho, que não tem explicação.
         Como explicar? Não tem como explicar. Deus na sua infinita misericórdia deu a mulher o dom de conceber aquele que amara por toda a eternidade. É ela que sofre as dores do parto, mas que qualquer dor passa ao ver aquele ser indefeso e abençoado e que ela dará todo o seu amor. É no seu ventre que a mãe já começa a esbanjar o seu carinho. É no ventre que ela já espera ansiosamente pelo seu filho. E que sonha todas as noites com o seu rostinho. E é essa mulher que é capaz de tirar a sua própria vida por o do seu filho. Ela é capaz de tudo...
Sim, mãe é aquela mulher forte, que luta por ver a família feliz... é aquela que tem jornada dupla de trabalho, e que mesmo chegando cansada do trabalho ainda tem animo para preparar o jantar, e contar uma história para o filho antes dele adormecer. Mãe não tem cor, religião, classe social...não importa...mãe é aquela que vira uma leoa quando tem que proteger o filho, é aquela que muitas vezes deixa de comer para poder alimentá-los. Mãe é aquela que mesmo não tendo gerado em seu ventre, dá todo o amor e carinho que uma criança merece.
Mãe uma palavra simples, e que significa muito. Mãe, uma palavra com três letras e que pode demonstrar um amor tão grandioso e puro que contagia qualquer ser. Mas nós como filhos sabemos de tamanho sentimento? Muitas vezes não... quantas vezes nos envergonhamos quando ela vai nos buscar na porta da escola? Quantas vezes já batemos a porta do quarto depois de uma briga, tudo por causa daquele tênis que ela não pode comprar... ou quantas vezes achamos a maior caretice quando ela dá um beijo de boa noite ou quando pede para levar um casaco quando estamos indo para uma festa com os amigos? É, achamos muitas dessas atitudes caretas e tudo porque já achamos que somos donos dos nossos narizes e que já sabemos nos virar sozinhos. Mas o que acabamos nos esquecendo é que por mais adulto que achamos que somos e até podemos ser, ela sempre estará nos amando e nos protegendo. E mesmo muitas vezes não dizendo o quanto ela nos ama, seus gestos já demonstram isso: seu amor incondicional pelos filhos. Sim... mãe amor eterno, nobre, fraterno...

Texto Publicado no Jornal da Manhã 08/05/2011- Caderno 2 - Coluna Vida Urbana


domingo, 15 de janeiro de 2012

 INDIFERENÇA        


O barulho dos carros, a agitação das pessoas, o corre-corre contra o tempo. Tudo e todos pensando na hora do almoço que já terminava, na prova de matemática, na reunião que começaria em poucos minutos, na conta de água que tinha vencido e que tinha esquecido de pagar. Tudo e todos agitados. Tudo e todos estressados, nervosos, inquietos, preocupados. Menos ela. Ela que com seu jeito simples e sereno, não se preocupava com o que as pessoas pensavam dela ou deixava de pensar. Apenas continuava os mesmos movimentos repetidamente.
         Mas as pessoas não ligavam para ela, ou melhor, nem percebiam sua presença. Estavam preocupados de mais com seus afazeres, com suas vidas que nem se quer tinham tempo de pensar em outras coisas. Em outras pessoas.
         E ela continuava ali. Ás vezes do seu pensamento surgia uma música que gostava. Gostava de cantar. Como gostava de cantar. Até tinha uma voz bonita, afinada. Cantar é bom, deixa o espírito mais leve. A música é capaz de transmitir muitas coisas, todos os sentimentos: amor, raiva, saudade.
         Todos os sentimentos.
         Resolveu parar um pouco. Sentia-se cansada. Sentou-se na beira da calçada. Dali via todos os carros, e de todos os modelos e anos. Que barulhão, motores ligados, buzinas, gritaria. Ai que poluição sonora!!!
         Levantou-se lentamente.
         Com os gestos tranquilos, suas mãos iam esfregando com um pedaço de sabão as poucas roupas que lavava. Nada de pressa! Nada. Afinal a água que escorria da sarjeta era pouca e lentamente ia enchendo o balde que ia servir para enxaguar as roupas. Sua vida pobre e humilde não lhe proporcionava o conforto de ter em casa água encanada. Seu pequeno quarto em que vivia, e que dividia com seus quatro irmãos, era o único refúgio que possuía nos dias de chuva, frio e até mesmo das noites escuras. Um quarto que abrigava uma família que lutava diariamente para uma vida mais feliz e sem tantos sofrimentos. Um quarto que acolhia sonhos... sonhos de ter uma casa grande, cheia de quartos, de ter uma cozinha, sala...Uma casa que teria uma geladeira farta...uma casa que teria um quintal para poder brincar. Mas aquele quartinho não tinha nada disso. Não tinha luxo. Nada de luxo.  Nada de dinheiro. Nada de conforto. Os dois colchões que ficavam no chão servia de cama, sofá, mesa para os 5 habitantes daquela casa. Nada de luxo... nada. Uma vida humilde e pobre, regrada de muito esforço. Todos os dias com suas roupas sujas seguia para a mesma rua e ali esperava ansiosamente a água que escorria pela sarjeta. Água essa que certamente alguém estaria esbanjando em algum lugar. Como alguém poderia esbanjar tanta água? Ela sabia quão importante era saber economizar e não desperdiçar. Ela sabia o quanto sonhava em ter em sua humilde casa, água que saísse das torneiras e com ela poder lavar o arroz, tomar banho, lavar as roupas. Quanto sonhava com este dia. E como sonhava. Mas enquanto este dia não chegava ela continuava ali, esperando a água escorrer pela sarjeta. E continuava sonhando com a água encanada. Sonhava.

Publicado Jornal da Manhã em 13/03/11- Caderno 2, e no Livro Ideias Soltas, Editora Apem 2010.

domingo, 8 de janeiro de 2012

 ETERNO AMOR

            Thomaz caminhava a passos lentos pela praça XV. Tentava esquecer dos problemas, distrair-se um pouco. Mas tudo havia acontecido tão repentinamente que a cena do ocorrido ainda persistia em seus pensamentos.
Que idiota! Fizera aquilo, e agora se arrependia. Mas o pior de tudo, o que mais o machucava, era a dor que sentia dentro do peito.
            Naquela praça nada lhe tirava a atenção de seus pensamentos: nem a criança que chorava por não ter ganhado o brinquedo que queria; ou, muito menos, o mendigo que estendia a mão, pedindo alguns trocados.
Se fosse em outras épocas, Thomaz com certeza iria tirar a roupa do corpo para dar àquele pobre andarilho; ou lhe daria os poucos tostões que trazia no bolso. Mas não, Thomaz estava tão triste, que parecia ter perdido a vontade de viver.
            Mas, como num impulso, Thomaz acordou para a vida e fez surgir o brilho nos olhos, quando avistou a figura daquela moça formosa.
 Ela caminhava sorridente, juntamente com mais duas amigas, desfilando com seu lindo, meigo e doce olhar. Os cabelos encaracolados faziam Thomaz perder a respiração. Mas, quando já perto dele o sorriso desapareceu e ela nem o olhou.
            Thomaz gaguejou algumas palavras, e ela não o escutou. De seus olhos pode-se notar a tristeza, que misturou com o sal das lágrimas que escorreram por sua face.
            Maria Beatriz não quis olhar para Thomaz, mas pôde perceber que ela também sofria ao ver o pobre moço.
            Quando já em casa, Thomaz deitou-se um pouco para descansar, mas não conseguiu. Sentia-se cada vez mais sozinho. Não tinha parentes, perdeu a mãe aos 12 anos, e a única irmã havia se casado e mudado para uma cidade próxima. Havia, porém, um amigo por quem tinha  admiração.
            Thomaz tinha como companhia seus velhos livros, que sempre lhe mostravam uma nova forma de ver o mundo. Quando estava finalmente pegando no sono, alguém bateu na porta.
        -  Thomaz, meu amigo, que cara mais triste é essa? – disse Eduardo, ao ver o amigo.
          - Entre Eduardo, foi bom ter vindo! Estava mesmo precisando conversar com alguém.
          - O que foi meu amigo? Há dias que percebo que anda cabisbaixo, triste, pensativo...
          - Infelizmente - disse cortando o amigo - Não me conformo de maneira alguma, porque fui tão burro a ponto de fazer aquilo.
          - Mas você não foi o culpado; você foi enganado. Pedro foi mais esperto que você.
          - Ele, que dizia ser meu amigo, estava querendo me prejudicar.
          - Na verdade ele queria tirar você do caminho, e conquistar o amor de Maria Beatriz.
          - Mas o que ele conseguiu foi apenas me separar dela, porque ela não o ama e nunca vai amá-lo.
          - Você tentou falar com ela?- perguntou Eduardo enquanto acendia um cigarro.
          - Apague esse cigarro, por favor, não gosto que fume aqui dentro!- disse pegando os cigarros da mão do amigo - Já tentei falar com ela; mas nem quis olhar para mim.
          - Acho que você tem que ter calma. De uma hora para outra ela vai saber a verdade.

Na manhã do dia seguinte Thomaz acordou com o cantar do galo. Era domingo e, por isso, não ia trabalhar. Resolveu caminhar pelo riacho e espairecer um pouco.
As águas que escorriam pelo rio lhe traziam-lhe profunda paz. Era como se elas levassem embora a tristeza e as amarguras, que sentia no peito e o atormentavam tanto.
Caminhou lentamente até que avistou uma bela moça. Era Maria Beatriz, e estava sozinha.
Resolveu tentar falar com a moça, mesmo que ela não quisesse. Chegou perto, mas ela tentou fugir.
- Por favor, escute-me!- disse Thomaz, segurando em seus braços.
- Não insista, não me faça sofrer mais do que já estou sofrendo. Já não está feliz pelo o que ocorreu? Quer me ferir mais?
- Não! Por favor, quero apenas que me escute e saiba que não tive nenhuma culpa... Maria Beatriz, eu não tive culpa-, disse Thomaz, com a voz rouca e trêmula.
- Thomaz, eu já sofri muito com esta história e, além do mais, meu noivo já esta chegando, e não quero que ele nos veja conversando. Ele não vai gostar.
- Noivo?!- disse gaguejando- Mas...mas...
- Sim! Estou noiva de uma pessoa que não me traiu, e que realmente gosta de mim.
           Aquelas palavras soaram como um tiro que perfurou seu peito. Como ela poderia estar noiva de outro homem, se era dele que ela gostava? Thomaz queria não ter escutado aquilo. Queria que tudo fosse um pesadelo, e que, quando acordasse, tudo estaria bem e poderia ter novamente Maria Beatriz em seus braços. Mas não! Era a mais pura verdade.
- Você está muito triste meu rapaz. A tristeza pode levar à loucura. Uma pessoa triste não vê sentido na vida. Mas a dor nos ajuda a crescer e mostrar o verdadeiro caminho da vida- disse uma velha senhora, oferecendo algumas amoras.
– Pegue, acabei de colher - disse.
- Obrigado- disse, agradecendo e pegando uma pequena e vermelha amora. - Percebo que a senhora é muito sabia... Mas não é necessária muita sabedoria para perceber minha tristeza.
- Não sou tão sabia quanto diz, mas tenho a experiência de vida. Já passei por tudo isso que esta acontecendo com você. Apenas posso lhe dizer uma coisa: a verdade vai aparecer! É preciso que você não desanime e saiba que nem tudo esta acabado. Talvez tudo esteja acontecendo com ambos para testar a força do amor. Talvez ela se case com outro, ou até mesmo você tome outro rumo na vida; mas, se for para vocês ficarem juntos, nem o tempo, nem ninguém vai separá-los, pois o amor está escondido na alma e no coração de cada um.
Ela continuou dizendo:
- Mas não pare de viver por causa disso: é preciso que você esteja fortalecido para enfrentar muitos obstáculos que estão por vir - concluiu a velha senhora, saindo sem se despedir.
- Senhora...senhora! por favor, espere! Por favor.
Totalmente inútil. A velha já havia desaparecido, e não o ouviu chamar.
Aquelas palavras serviram como fortificante para a sua alma.
Não adiantava ficar sofrendo. Era preciso fortalecer-se para reconquistar novamente o amor de Maria Beatriz.
A velha senhora tinha razão.
Mas quem era aquela mulher? Nunca a vira antes. Talvez, um anjo que Deus havia  enviado naquele momento de tristeza. Um anjo?...


No dia seguinte, Thomaz, resolveu, após o trabalho, ir até o teatro. Estava apresentando um grupo teatral de que gostava muito, além, é claro, de ali estarem várias pessoas. Quem sabe Maria Beatriz também. Assim poderia se embebedar novamente com seu sorriso.
Já dentro do teatro, procurou um lugar que tivesse a visão toda do ambiente. Encontrou um lugar vago que ficava ao lado do Sr. e da Sra. Smith, velhos conhecidos e de grande estima entre as pessoas da alta sociedade. O Sr. Smith, médico renomado tinha como pacientes pessoas famosas, como o deputado Rivas, o senador Cezar, entre outros.
Mas Thomaz não queria saber quem era a pessoa que sentava ao seu lado. Não era isso que importava. Queria apenas que uma única pessoa estivesse presente ali, Maria Beatriz. Estava tenso; inclinou a cabeça à procura dela, até que finalmente a avistou.
 Estava linda, sua bochecha avermelhada lhe trazia mais graça. Porém foi grande a surpresa ao ver quem a acompanhava. Seu rosto envermelhou-se de raiva. Quis sair dali e ir até ela e dizer toda a verdade; mas se conteve, pois a peça já começava.
Não conseguia prestar atenção. Não tirava os olhos de Maria Beatriz e da pessoa ao seu lado.
 Não aguentando mais, na hora do intervalo foi embora. Saiu à procura de um bar ainda aberto. Queria matar sua mágoa com a bebida.
Ficou ali, no pobre e sujo bar da Avenida Santo, embebedando-se até o dia amanhecer.


- Acorda Thomaz...acorda- dizia Eduardo, dando leves tapas em seu rosto.
- Não - resmungava – Deixe-me aqui; quero ficar aqui para sempre.
- Thomaz, tome vergonha nessa cara e acorde! - disse bravo.
A muito custo Thomaz foi lentamente despertando.
- O que aconteceu?- perguntou para o amigo.
- Você ficou bêbado e o dono do bar me chamou para que eu o levasse embora... Depois, é claro, de ter ficado quase nu...
- Não acredito! que vergonha meu Deus, que vergonha! E tudo porque vi Maria Beatriz com aquele...
- Aquiete-se, você já fez besteira demais para uma única noite. Bem, pelo menos várias moças gostaram de ter te visto quase nu-, disse rindo, e dando uns tapinhas nas costas de Thomaz.
- Nem quero sair de casa! Que vergonha!
- Não quer sair? Você é que pensa. Tome este café amargo para curar sua ressaca e se arrume. Tem que trabalhar, além é claro de ter perdido toda a manhã. O Sr. Almeida irá ficar muito bravo com você, e comigo também, pois fiquei aqui.
- O Sr. Almeida...- disse resmungando- Mas, obrigado por ter ficado aqui comigo.
Os dois amigos caminharam para o trabalho. Thomaz não conseguia tirar da cabeça a figura de Maria Beatriz na noite anterior.


No dia seguinte, Thomaz e seu amigo Eduardo foram convidados para jantar na casa do Sr. e da Sra. Smith, juntamente com outras pessoas. Era de costume da família todo dia 20 de cada mês reunir alguns amigos e jogar conversa fora, acompanhado de uma boa música, delicioso jantar regados com muita bebida e muita alegria.
Já era quase oito da noite quando Thomaz e Eduardo chegaram.  Muitos conhecidos já estavam lá. Na entrada receberam uma máscara de festa; assim nenhuma parte do rosto poderia ser vista.
- Bem, meus amigos e amigas, aqui reunidos. – iniciou o Sr. Smith- Quando entraram em minha casa todos receberam estas máscaras para que cobrissem o rosto e ficassem anônimos. É uma brincadeira. E só poderão retirar a máscara no final da festa. Divirtam-se.
- É o que me faltava: ficar com esta máscara a noite toda, e assim não poder saber quem são as belas mulheres que aqui se encontram- resmungou Eduardo.
- Pare de reclamar e entre na brincadeira-, disse Thomaz dirigindo-se para uma moça que lhe chamava a atenção, apesar de não poder ver seu rosto.
- Aceita esta dança? – perguntou já perto da moça.
Ela estendeu sua mão em sinal afirmativo.
Dançaram por um longo tempo até que Thomaz arriscou algumas palavras.
- Apesar de seu rosto estar coberto com esta máscara, posso ver em seus olhos que está triste.
- Tem razão rapaz, meu coração anda muito apertado. Amo um homem e não posso tê-lo ao meu lado.
Ao dizer estas palavras, Thomaz teve a certeza de sua suspeita: a moça era Maria Beatriz, e iria fazer de tudo para não perdê-la naquele momento.
- Posso saber o por quê?
- Bem, nós dois estávamos juntos, mas ele fez algo que não gostei e que me magoou muito. Ele me usou como aposta em um jogo - disse limpando as lágrimas por detrás da máscara.
- Mas isto é terrível. Desculpe, mas, por acaso, a senhorita tentou escutar a versão dele?
- Não quero vê-lo nunca mais. A minha sorte é que um amigo dele me contou toda a verdade. Esse amigo dele é meu noivo.
- Bem, talvez esse outro rapaz, que disse ser amigo dele e da senhorita, não seja tão confiável assim.  Já passou pela sua cabeça que esse tal amigo possa ter armado tudo isso para ficar com a senhorita?
- Não - disse pensativa - Não havia...
- Pois deveria ter pensado, vocês devem deixar que o amor fale mais alto, e se vocês se amam, nada e ninguém deve separá-los. Tente escutar o coração.
- Tem razão. Não sei, mas acho que o conheço- disse, tentando tirar sua máscara.
Thomaz ficou atordoado e, num gesto desesperado, saiu da casa e foi embora. Estava muito feliz, tivera por alguns instantes a seu lado Maria Beatriz, a quem amava demais.

Na manhã do dia seguinte, Eduardo encontrava-se na confeitaria da Avenida Ipiranga à espera de uma companhia. Grande foi a sua surpresa ao ver a figura que sentava à sua frente.
- Maria Beatriz, é você que quer falar comigo?
- Sim sou eu, está surpreso?
- Devo confessar que sim.
- Eu também estou, não pensei que tivesse coragem de vir falar com você.- Fez uma pausa - Mas o que me fez chamar você aqui é que quero saber toda a verdade daquela noite.
- Tudo bem, vou contar-lhe tudo o que aconteceu...Estávamos eu, o Thomaz, o Pedro e outros colegas jogando baralho para distrair. Bebíamos um pouco. Ficamos ali até tarde, e quando só estávamos eu, Thomaz e Pedro, resolvemos apostar algumas coisas valiosas. Foi ai que Pedro, aproveitando de que Thomaz já estava bêbado fez uma proposta... ou melhor  insinuou que ele não a amava o suficiente para casar com você. Thomaz disse que a amava muito, e que só não se casava com você porque ainda não tinha o dinheiro suficiente para se casar. Thomaz disse isso engolindo o último gole de cerveja. Pedro disse que então que iriam apostar. Disse que se Thomaz ganhasse essa aposta, daria a ele uma boa quantia em dinheiro, para que ele se casasse com você, Maria Beatriz. E, se por acaso, ele perdesse a aposta, ele teria de servi-lo durante um mês, além de deixa-lo sair com você durante dois dias.
Eduardo continuou:
- Thomaz gritou que aquilo não. Falou que Pedro poderia fazer tudo o que quisesse com ele, mas que ele não sairia nunca com você, isso era impossível.
Quando Thomaz terminou de dizer isso, por causa da bebida e do nervoso, desmaiou vindo a acordar só no dia seguinte em sua casa. Os dois nem chegaram a apostar, mas como eu não estava mais lá, e Thomaz não se lembrava de nada que havia acontecido, acabou acreditou em tudo o que Pedro lhe havia dito, e ele afirmou que Thomaz havia  apostado você naquela noite; mas não foi o que aconteceu. Pedro inventou toda aquela história para Thomaz. Depois Pedro contou a você a história que interessava a ele. Inventou tudo.
- Mas como você soube disso?
- O dono do bar ouviu a conversa; quando voltei até lá, ele me contou tudo.
- Mas por que ele não me disse nada? – perguntou enquanto limpava as lágrimas.
- Porque você não deu oportunidade para ele. Thomaz tentou várias vezes, mas você estava cega de raiva; não acreditava nele; só acreditava nas palavras de Pedro.
- Meu Deus! Como fui idiota! Estava cega e não enxerguei. Agora Thomaz não me quer mais.
- Maria Beatriz, Thomaz sofre todos os dias pelo que aconteceu... Ele sofre muito mais por saber que você não o escutou. Ele queria só uma oportunidade para contar tudo a você.
- O que eu faço agora?
- Vá conversar com ele.
- É o que vou fazer, e é agora.
Disse, saindo rapidamente e indo procurar Thomaz.
No meio do caminhão, Maria Beatriz ia reclamando, chorando, soluçava muito, não acreditava que havia sido tão tola, a ponto de acreditar em Pedro, em vez de dar uma oportunidade para que Thomas se explicasse e pudesse colocar a limpo toda aquela história.
Encontrou Thomaz sentado em um banco da praça XV, à beira do lago. Estava cabisbaixo.
- Thomaz!- disse Maria Beatriz, com a voz trêmula.
Thomaz voltou os olhos e teve a grande surpresa, ao ver quem era a dona da voz que o chamou.
- Maria Beatriz!!!
- Por favor, não diga nada! Eu fui muito boba e não quis escuta-lo. Acabei acreditando em alguém que só queria o seu mal. Eu deveria ter ouvido o seu lado da história.
- Maria Beatriz, está tudo bem. Vamos esquecer tudo isso e continuar de onde paramos. Eu a amo.
- Eu também o amo muito.
E num sinal de reconciliação, os dois se abraçaram e deram um longo e delicioso beijo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

 Cidade menina


Inspirada em um poema, és cidade menina
que guarda em cada canto
histórias inigualáveis e muitas ainda desconhecidas,
carregando no peito dos que aqui habitam
amor, força, garra e união.
Da cultura japonesa e italiana
abrigastes com gratidão, filhos de coração.
Dos pés de café aos trilhos do trem,
dos dinossauros às novelas,
poetas, escritores...atores....historiadores.
Cidade das noites iluminadas
abençoada...
Símbolo de amor e liberdade.
Trazes sempre algo novo
no teu banho de luar refletes a luz,
em suas manhãs a beleza nos conduz
em teu bosque preservado, amor à natureza
diversidade retratada no povo
que luta
pelo sustento diário.
Já fostes Alto Cafezal e Marília de Dirceu,
mas hoje apenas Marília
cidade ainda menina,
acolhestes os sonhos dos filhos teus.