Deficiência
Não é porque estava na cadeira de
rodas que iria parar de viver. Iria ter que se adaptar a sua nova situação, mas
nada impossível, afinal, o ser humano é capaz de se adaptar a qualquer
situação. Claro que no começo iria sofrer preconceitos, dificuldades, mas com o
tempo, com as suas “novas pernas”, poderia fazer tudo que quisesse. Já tinha
ouvido diversas histórias de pessoas, que apesar das dificuldades encontradas,
nunca desistiram de continuar na busca de seus sonhos.
Mas foi também nessa nova fase de
sua vida, que ele começou a ver quantas dificuldades um cadeirante ter que
enfrentar, primeiramente pelo fato de que muitas ruas e calçadas não estão
adaptadas para isso.
Num dia desses, quando tentava
atravessar uma rua, um carro estava estacionado em frente a uma rampa de acesso
para cadeirantes. Naquele momento lembrou-se de quantas vezes já havia feito aquilo
antes. Pensou em xingar, mas percebeu que não valia a pena, afinal, aquele
motorista não tinha a noção da tamanha dificuldade que estacionar ali podia
causar para um cadeirante, então fez melhor, colocou um bilhetinho no carro,
dizendo ao motorista que ele tinha estacionado em um lugar errado, e que aquela
atitude atrapalhou muito um cadeirante, e que aquilo não poderia mais
acontecer. Talvez o dono do carro iria aceitar o fato de que estava errado, ou
não. Mas isso Mané não poderia saber.
Outra dificuldade que Mané estava
enfrentando, era quando tentava pegar um ônibus para ir para a faculdade.
Infelizmente não há muitos ônibus que permitem acesso das cadeiras, e o jeito é
ficar horas e horas no ponto de ônibus esperando algum adaptado para isso.
E é assim, infelizmente os
cadeirantes sofrem pela falta de recursos que lhe são necessários para poder
transitar tranquilamente pelas ruas da cidade. São calçadas cheias de buracos
que impedem a passagem das cadeiras, falta de rampas, falta de meios de
transportes adaptados, e principalmente as pessoas. Sim, muitos ainda se esquecem
de que o fato de uma pessoa estar numa cadeira de rodas não quer dizer que ele
é um invalido. Ainda há pessoas preconceituosas e que não estão nem ai. Pessoas
fracas de espírito.
Assim como Mané, milhares de pessoas
cadeirantes sofrem com a falta de adaptação nas vias de acesso. E o que
fazemos? Estacionamos em frente de rampas, não estendemos as mãos quando sentem
dificuldades ao transitar pelas ruas, muitas vezes fingimos que não é conosco.
Será que são realmente essas pessoas que possuem alguma deficiência? Deficiente
somos nós que achamos que não é com a gente, e que nos preocupamos apenas como
o nosso umbigo. Deficiente somos nós que somos preconceituosos. Deficiente
somos nós que negamos ajuda. Deficiente somos nós que nos esquecemos do
próximo. Deficiente somos nós...
Por:
Joyce Silva