terça-feira, 1 de maio de 2012

Não

         Certo dia um amigo me entregou uma carta e ao ler tive a certeza que o não quando necessário, deve ser dito. A carta dizia assim:

“Amigo, nem sei como estou conseguindo escrever esta carta, mas apesar das minhas mãos ainda estarem trêmulas, acredito que seja preciso escrever e lhe contar o que aconteceu comigo. Espero que meu relato possa servir como exemplo para muitos.

            Desde a minha infância escutava minha mãe dizendo para ter cuidado com as companhias, que não deveria deixar me influenciar pelos outros, etc, etc, etc... e para dizer a verdade para você, sempre achei aqueles comentários dela cafonas de mais e nem se quer dava atenção a eles. Tava nem ai para o que ela dizia, eu gostava mesmo era de sair com os meus amigos, me divertir. Confesso que sempre fui na minha, e as vezes me sentia até tímido e isolado dos outros meninos da minha idade. Os meus amigos eram bem “descolados” e sempre estavam conversando com alguma garota, era o centro das atenções. Nas festas que íamos, eles sempre conseguiam ficar com alguma garota. Ás vezes até ficava com inveja deles, afinal nenhuma garota queria ficar comigo. Mas apesar de tudo isso, gostava de sair com eles, me divertia bastante.

            E foi numa dessas festas que conheci uma garota e não tendo muita coragem de chegar nela, me oferecem um negócio e me disseram que eu iria ficar mais descolado e enturmado com a galera, ai sim a menina ia logo gostar de mim. No começo não queria, mas meus amigos começaram a zuar de mim, me chamando de careta e acabei topando. No começo achei o maior barato aquele negócio. Ficava mais alegre e descolado. Até comecei a curtir mais aquelas festas.

            Não tinha mais vergonha para mais nada e quando tava afim de alguma garota já chegava junto e sempre acabava ficando com a menina.

            Só que minha mãe começou a pegar no meu pé e acabei tendo que conseguir aquele negócio escondido. Teve até uma vez que quebrei uma mesa lá de casa, tava querendo grana e minha mãe não queria me dar.  Ai virei o “bicho”. Precisava de grana, e ninguém queria mais me arrumar aquele negócio de graça, até mesmo aqueles que falavam que eram meus amigos começaram a negar.

            E assim foi se passando. Aquilo já fazia parte da minha vida. Nem ia mais à escola, achava que não precisava mais. Achava escola careta. E cada dia que passava fazia falta ficar sem ele, não conseguia mais. E quando não tinha grana, o jeito era pegar alguma coisa lá de casa para tentar vender ou trocar. Precisava dele a todo instante. Tive até umas sensações meio esquisitas, mas nem ligava. Parecia que as pessoas queriam me perseguir. Teve até vezes que vi uns monstros me seguindo, uma coisa muito louca. Mas a vontade de tê-lo era maior e cada dia que passava se tornava mais presente em minha vida.

            Fui internado diversas vezes, mas sempre fugia. Achava que não era louco para ficar naquela clinica, e sempre arrumava um jeito de sair dali.

            Mas um dia quase na beira da morte, resolvi me livrar daquele negócio que achando que estava me fazendo bem, estava me matando. Aquele negócio meu amigo, é uma DROGA e sempre vai ser. Por isso, não deixe que isso destrua sua vida. Hoje estou aqui nessa clinica, tentando me recuperar do tempo que perdi. Por isso meu amigo, diga sempre Não antes que seja tarde de mais".



Publicado no Jornal da Manhã-19/06/2011-Caderno 2 – Coluna Vida Urbana.

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