segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Deficiência

           Depois de ter sofrido aquele acidente de carro, a vida de Mané não seria mais a mesma. Agora iria ter que aprender a viver como cadeirante. No começo não queria aceitar o fato de que não teria mais os movimentos das pernas, mais depois, com a ajuda de familiares e de amigos, essa ideia começou a ser aceita.

            Não é porque estava na cadeira de rodas que iria parar de viver. Iria ter que se adaptar a sua nova situação, mas nada impossível, afinal, o ser humano é capaz de se adaptar a qualquer situação. Claro que no começo iria sofrer preconceitos, dificuldades, mas com o tempo, com as suas “novas pernas”, poderia fazer tudo que quisesse. Já tinha ouvido diversas histórias de pessoas, que apesar das dificuldades encontradas, nunca desistiram de continuar na busca de seus sonhos.

            Mas foi também nessa nova fase de sua vida, que ele começou a ver quantas dificuldades um cadeirante ter que enfrentar, primeiramente pelo fato de que muitas ruas e calçadas não estão adaptadas para isso.

            Num dia desses, quando tentava atravessar uma rua, um carro estava estacionado em frente a uma rampa de acesso para cadeirantes. Naquele momento lembrou-se de quantas vezes já havia feito aquilo antes. Pensou em xingar, mas percebeu que não valia a pena, afinal, aquele motorista não tinha a noção da tamanha dificuldade que estacionar ali podia causar para um cadeirante, então fez melhor, colocou um bilhetinho no carro, dizendo ao motorista que ele tinha estacionado em um lugar errado, e que aquela atitude atrapalhou muito um cadeirante, e que aquilo não poderia mais acontecer. Talvez o dono do carro iria aceitar o fato de que estava errado, ou não. Mas isso Mané não poderia saber.

            Outra dificuldade que Mané estava enfrentando, era quando tentava pegar um ônibus para ir para a faculdade. Infelizmente não há muitos ônibus que permitem acesso das cadeiras, e o jeito é ficar horas e horas no ponto de ônibus esperando algum adaptado para isso.

            E é assim, infelizmente os cadeirantes sofrem pela falta de recursos que lhe são necessários para poder transitar tranquilamente pelas ruas da cidade. São calçadas cheias de buracos que impedem a passagem das cadeiras, falta de rampas, falta de meios de transportes adaptados, e principalmente as pessoas. Sim, muitos ainda se esquecem de que o fato de uma pessoa estar numa cadeira de rodas não quer dizer que ele é um invalido. Ainda há pessoas preconceituosas e que não estão nem ai. Pessoas fracas de espírito.

            Assim como Mané, milhares de pessoas cadeirantes sofrem com a falta de adaptação nas vias de acesso. E o que fazemos? Estacionamos em frente de rampas, não estendemos as mãos quando sentem dificuldades ao transitar pelas ruas, muitas vezes fingimos que não é conosco. Será que são realmente essas pessoas que possuem alguma deficiência? Deficiente somos nós que achamos que não é com a gente, e que nos preocupamos apenas como o nosso umbigo. Deficiente somos nós que somos preconceituosos. Deficiente somos nós que negamos ajuda. Deficiente somos nós que nos esquecemos do próximo. Deficiente somos nós... 

Por: Joyce Silva

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